quinta-feira, 23 de julho de 2009

quase!

"Eu sei o mal que fiz, já está feito,
mas lhe pedi perdão por ser assim,
e o coração que tenho no peito
não quer acreditar
já nem estou mais aqui,
nem em qualquer lugar!"
Imperfeito
Pato Fu
Foi foi com a parte de mim da qual menos me vanglorio que meu queridíssimo Eu Lirico se deparou neste sábado.
Perdido há muito tempo dentro daquele edifício mal-cuidado, de corredores labirintosos, o pobre coitado só se alimentava com a esperança de conseguir a liberdade. Deprimido, reprimiu-se. Perdeu o ânimo de me mandar notícias. Sendo assim, minhas reflexões diárias se limitavam a coisas práticas: música, cinema, literatura, fofoca das amigas, alcool.
Naquele dia em particular, enchera-se de ânimo. Vestiu a casaca formalíssima, no maior estilo poeta morto, arregaçou as mangas cuidadosamente para não arruinar o tecido, e tornou a caminhar, como se houvesse um objetivo. Pouco depois, virando em um corredor, deparou-se com um vulto que vinha correndo em sua direção.
A criatura possuía cabelos castanhos presos em maria-chiquinhas, enrrolados com cuidado. Trajava um vestido infantil retrógrado, de mangas longas e saia rodada. Meias brancas até os joelhos, ralados por travessuras. Parou os sapatinhos de couro preto com fivelas prateadas muito em cima da hora para evitar uma colisão.
- Quequé, tiio?
O Eu, apesar de confuso, comovia-se com a visão de ser tão doce. Abriu um sorriso simpático, e ajoelhou-se à frente da menina. Baixou o tom de voz para algo suave, escolhendo as palavras com cuidado para agradá-la.
- Olá, fofura... Para quê a pressa? Aonde vai, correndo assim?
- Me chamaram láá foraa! Eu vou sair, e você nããoo!
Empalhidecera com a criança contando vantagem. Havia ser assim, dividindo o mesmo espaço que ele naquela mente? Jamais encontrara ninguém, por ali!
- Pode me... Hmm.. Explicar...?
- Assim, ó: eu vô sair, fazer um fuuurdunço! Daê, depois, quando eu tiver cansadinha, volto pra durmí um poquinho. Mas se for bom meesmo, vô ficar lá baastante, e voltar bem rapidinho, só pruma soneca. É que daí eu posso sair di novo - sorria de forma maliciosa, olhinhos castanhos faíscando de felicidade.
- Como assim... "Furdunço"?
- A Mila me soltou. E euzinha vô lá, inxê o saco di toodo mundo!
- E eu posso saber quem você é?
- Euu so a criança interior mimada dela, claaro! Sabia dessa não?
- Aahn... Não?
- Éé, eu saio pra tacá o caos. Quando a criança fofa dela não consegue chamar a atenção, eu vô lá, fazê todo mundo olhar pra ela - com isso, colocou os braçinhos atrás do corpo, balançando-o para frente e para trás, afirmando o que dissera com o corpo inteiro.
Eu ficara sem palavras. Além daquela coisinha, ainda havia outra?!
- Óói, é tipo Halloween: se não dão doce pra otra, eu vo lá e faço travessuras!
- E agora, o que houve...?
- Largaram ela, deixaram ela di lado... Dae eu vo lá. Licencinha, mas eu to atrasada! - assim, maneou a cabeça rapidamente e voltou a correr.
Eu ficou abismado com a velocidade da criança, e tentou segui-la. De repente, então, deu de cara com uma parede que ali não existia. Cansado, deixou-se cair no chão e adormecer.
Enquanto isso, no mundo exterior, o lado mais egoísta da pobre escritora tomava o controle de suas ações, auxiliado pelos goles de Presidente que ela havia tomado.
E foi assim, que quase joguei dois meses de namoro no lixo. Por não conseguir ser paciente o suficiente.

Mais tarde, Eu foi acordado por passos lentos e arrastados. Eram os mesmos sapatinhos, que agora voltavam. Confuso e sonolento, viu a menina passar de volta por ele, com cara de choro. Chamou-a, e viu um olhar carente iluminar-se no rostinho tristonho, anteriormente tão prepotente.
- Já cansada?
- Ela... - fungou na manga do vestido amarrotado - Ela tá di ressaca... Não é bom... Assim ela pensa no que eu fiz, e... E... Se arrepende...
- Pode explicar...?
- Quando ela se arrepende... Eu fico mais tempo presa aqui... - abaixou o rosto, secando algumas lágrimas. Depois começou a rir sozinha - Só que se eu sair di novo... Vai ser mega, master, blaster legaaal! - levantou-se e voltou para onde quer que tenha vindo, criando seus planos mirabolantes.
O então confuso eu, se perdeu mais ainda ao levantar os olhos e perceber que uma janela havia aparecido, onde antes havia a parede contra a qual colidira. Abriu-a ressabiado. Podia sentir as gotas de chuva e o clima cinzento. Então, chamou-me, e narrou sua história. Narrei a minha para ele também.
E foi assim que refleti. Assim que pensei em como redimir meus pecados.
Porque eu só sei dar valor ao que perco. Não quero mais andar na corda-bamba. Já estive lá, não quero voltar.
G, te amo. Mesmo depois de me ter feito pensar mil merdas, e gargalhar em seguida. Pra dizer bem a verdade, justamente depois disso.
Pena que você não tenha nem idéia do impacto de tudo que você faz sobre mim...

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