segunda-feira, 27 de julho de 2009

caminhada.

Eu sei que andava na rua. E que chovia, isso podia ouvir. O guarda-chuva era absurdamente grande e pesado. Já estava com os tênis e as barras da calça molhados, mas... Pra quê ligar? A ressaca esmigalhara meus miolos logo no começo do dia.
Meu namorado me guiava pela mão. Eu, lenta como só, aproveitei para olhar os ladrilhos e divagar. Nunca consigo fazer isso com tanta facilidade. Preto, branco, branco, preto, banco, preto, preto... Hmm... Aquilo lembra um cristal de neve... Será que algum dia eu vou ver neve? Realizar meu sonho de ir para a Inglaterra...? Seria divertido... Poderia trabalhar. Melhorar meu ingles... E que droga de sotaque o meu... Mas não sozinha... Acho que eu ia me paralisar, sozinha. Pararia no aeroporto, olhando todos aqueles britânicos em roupas de frio, sem saber o que fazer, aonde ir. Como perguntar as horas? Sei que se pedir ride, não seria entendida, a palavra correta lá seria lift para carona... E se ninguém me entender...? E se não conseguir voltar? E se fosse atropelada? Se tivesse uma ressaca? Se me perdesse? Se apanhasse?
De repente... Me senti criança. Mal sabia aonde estávamos, no Centro de Curitiba. Nem tinha idéia de porque fôramos tão longe.
Pior que tudo. Me senti idiota. Dependente. Que tipo de garota deixaria de realizar um sonho porque ninguém mais quer ir junto? Se não houvessem impeçilhos, assim digamos. Quem abriria mão de um desejo de anos por não se sentir só?
E então, o monstro transmutou-se. Não sei porque. Me vi levando meu futuro com a barriga. Sem mais passeios de rumo duvidoso pelas calçadas molhadas. Sem mais fins de semana com amigos. Só trabalho, compromissos.
E se me casasse? Às vezes penso nisso. Aos dezoito, idade que tenho agora, meus pais já estavam noivos. Aos vinte e um, casados e com uma pirralhinha. Sem direito a viagens para a Europa, curso de ingles, término de faculdade...
Por sorte, um calafrio me percorreu a espinha, afastando todos os pensamentos.
Chovia e estava frio. Olho para calçadas e me sinto bem com isso.
Além disso, tenho aquela mão, que vai fazer o máximo para me aparar se eu cair.

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