quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

indignação.

"Vamos falar de pesticida
E de tragédias radioativas
De doenças incuráveis
Vamos falar de sua vida.
Preste atenção ao que eles dizem
Ter esperança é hipocrisia
A felicidade é uma metira
E a mentira é salvação.
[...]"
Natália
Legião Urbana

Moro em um bairro relativamente calmo, na cidade de Curitiba. Se chama Hauer. Ele tem meia dúzia de ruas rápidas, casas antiguíssimas, com mais de quarenta anos (a da minha familia se encaixa nesse caso), sobrados novos que abrigam familias pequenas. Um bairrinho comum, pacato, com ausência de calçadas na maior parte das quadras, e muitas árvores dentro dos lotes.
Ontem, saí de casa tranquilamente para andar até a rápida mais cheia de lojas, para procurar tinta para cabelo. Mal atravessei o portão, e me deparei com a pior hora do dia: a saída dos colégios públicos ao redor.
Nada contra escolas públicas. O meu problema é com adolescentes estupidos e crianças burras. E essas criaturas desprovidas de massa cerebral existem em todas as classes sociais.
Na rua da minha casa, mora uma mulher de mais ou menos sessenta anos, junto com sua mãe - sim, pasmem. O Hauer ter uma expectativa de vida absurdamente alta. Ela tem um tipo de deficiência mental, e aparenta ser, sinceramente, muito quieta. Não fala, e também não ouve. Passa a maior parte do tempo olhando tudo, retribuindo sorrisos e acenos na rua.
Quando vim morar com minha avó, essas vizinhas costumavam vir muito à minha casa. Lógicamente, aos dez anos, não é uma coisa confortável tentar conversar com alguém que só dá sorrisos distantes, e mal olha nos seus olhos. Minha reação era corar, ficar sem jeito e me encolher, dando mais sorrisos educados. Depois, como criança sensivel que era, eu me desfazia em lágrimas contra o mundo injusto e blá, blá, blá. Não que hoje ele pareça mais justo. Apenas me conformei.
Enfim. Agora é que tudo se liga. Não, eu não estava perdendo o juizo e fazendo relatos sem pé nem cabeça. E não importa o que qualquer professor de redação diga.
Ontem, saí de casa, como ia dizendo. Do meu portão, avistei um grupo de crianças olhando para dentro do portão de minhas vizinhas. No inicio, me preocupei, pela idade de ambas. Achei que alguma coisa tivesse acontecido, e corri para ver.
As criaturas riam. Minha vizinha olhava para eles, como se não entendesse, imóvel. Sua mãe não estava lá. De dentro do portão, ela via gestos ofensivos. A chamavam de louca, de lelé. Chegavam a xingar.
Me emputeci, tive vontade de dar um corridão em cada moleque magrelo. De arrastar aquelas menininhas imbecis pelos cabelos e entregar pros pais. E ainda triunfar. "Vai dar educação pra essa coisa que tu chama de filho". Isso que normalmente sou pacifica, até meio covarde.
Felizmente, o bom-senso falou mais alto, e decidi apenas dar uma bronca - os pais de seres tão insensiveis não devem ser melhores que eles. A pobre mulher não decidiu ter problemas. E nem podia ser ela a tomar essa briga. Qualquer um pode sofrer um golpe do destino.

Mal consegui dormir. O acontecimento mexeu com meus brios de uma forma assustadora.
Senhoras e senhores. Aqueles monstros são o futuro da nossa nação.
Que lástima.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

teorias.

"[...] Minha cabeça está fria,
Minhas mãos estão frias,
Meu coração está frio.
Meu coração está negro,
E pára toda maldita noite.
Toda noite, eu espero até que pare.

Cantem, pássaros,
Cantem, pássaros,
Cantem, pássaros,
Cantem!
Vão embora."

Give Me It
The Cure

No fim, todos estamos perdidos.
Lógicamente, faço uma generalização de um sentimento pessoal - me parece mais coerente no contexto literário do que dizer "oi, sou uma vítima do transtorno bipolar!".
Até agora, só consegui estabelecer este enunciado com total clareza. Não consigo definir porque determinadas pessoas parecem mais sem rumo do que outras, ou porque em alguns momentos simplesmente não sentimos o quão desamparados estamos. Mas tenho algumas teorias.
A primeira delas é a de que todos procuramos coisas diferentes. Por isso, certas criaturas demonstram menos necessidade de ser amparadas, ajudadas. De buscar o impossível.
Mas como isso parece simples demais, e de certa forma, assustadoramente careta para merecer uma maior exploração filosófica, optei por prosseguir para a segunda sem mais delongas.
Acredito que o pensamento mais coerente que passou por essa pequena cabeça perturbada, foi o seguinte:
  1. fato, estamos perdidos. Todos, absoluta e irremediavelmente perdidos.
  2. estamos confusos a ponto de sequer saber o que ou onde procurar. Sequer saber de que natureza - material, espiritual, ou qualquer outro "al" que puder ser imaginado. E "ais" que jamais suspeitamos ou suspeitaremos que existiram, existem ou existirão;
  3. por incrivel que pareça, esta "coisa" pela qual buscamos é comum. A todos. E justamente por não conseguirmos ter noção das inclinações dos outros para encontrar "aquilo" - pois todos temos um tipo de bússola apontando para o que quer que seja. De outra forma, seria absurdamente mais injusto do que já é encontrar o "troço" - ironia, ironia~~!;
  4. ocasionalmente, não percebemos o quão falta sentido em nossas existências. Isso acontece pois encontramos "distrações" no meio do caminho. Como, no caminho pra casa de um amigo para comer pizza, receber o telefonema de alguém convidando para um open bar;
  5. tais desvios oferecem conforto momentâneo, mas não duram muito;
  6. sim, dá perfeitamente para viver com esses espamos de alegria. E é por isso que - me espanque quem quer que duvide! - toda a pessoa que se julga feliz também tem seus momentos de depressão;
  7. alguns são mais sensiveis que outros. Daí em diante, segue a clássica classificação: fresco (a), emo, perturbado (a), psicótico (a), estranho (a), etc...
Até que saiu melhor do que pensei.
Passei anos imaginando isso. Desde conseguir idealizar, até transformar em palavras - começou com aquele estranho aperto no coração, que a maioria das pessoas ignora -, organizá-las... E agora, os rabiscos finalmente trazem alivio, ao esvaziar uma parte da cabeça.
As palavras já não são minhas. São de quem quiser ler e tirar idéias.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

devaneio.

"[...] Vibra, no tremor de uma noite escura.
Não posso dormir, não posso dormir assim...
Vibra, no tremor dos meus sentimentos inocentes,
Alguns de meus pensamentos egoístas.

O que estou sentindo vem do fundo do meu peito?
Isso de alguma forma me manteve preso.

Ah! Novamente ao amanhecer, a paixão de Akane
Se deixou influenciar pelos seus sentimentos. [...]"
Akane
Nightmare

Tenho me deparado com o mundo real com maior frequencia que normalmente faço. Alumas vezes, meus olhos chegam a arder, no susto do dia-a-dia.
Não sou como me imaginava, aos seis anos. Não sou bonita como pensava que seria, nem esforçada, nem charmosa ou carismática.
E, aah, como dói não ter alguém para me convencer do contrário...
Como mulher, preciso que me abraçem. Me apreciem. Me admirem.

Sinceramente, o único dom que se destaca em minha história, é o de tomar as decisões erradas, no que concerne a sentimentos. Poderia estar muito feliz, se me contentasse com o que me foi ofertado. Se aceitasse quem me aceita, e ponto final. Se percebesse os obstáculos, e não tivesse sonhos imbecis e sem sentido, para alcançar o impossivel.
E se não doesse tanto perceber o chão sob meus pés, a ausencia de asas.

Não quero um principe, em um cavalo branco, com todas aquelas palavras pomposas da realiza...
Me bastaria um plebeu sincero e carinhoso.