segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

josé amaro.

"Se eu não disser nada,
como é que eu vou saber
onde fica a chave
do mistério de viver?"
Adriana Calcanhoto
Tema de Alice

Apesar de não acreditar em Deus, nem em vida após a morte, ou céu e inferno, gosto de pensar que o você sente quando eu penso no senhor. Ou que nos rodeia... Não sei bem explicar. É só algo que me reconforta um pouco. Talvez um dia eu tente explicar.

Já se foram quatro anos, seu Zé... E eu ainda sinto sua falta.
Queria ter tido tempo de agradecê-lo. Queria ter tido a gratidão para isso, quando tive tempo. Me arrependo muito de não ter passado mais tempo com você. Afinal, grande parte da mulher que eu sou hoje se deve ao senhor, mesmo que eu tenha demorado muito para perceber. Me ensinou a ouvir, a não incomodar, a baixar a voz para falar, pedir com educação... Sempre rígido, mas sem nunca perder a ternura. Depois de cada briguinha idiota por causa do meu som alto, vinha de fininho e me apertava em uma abraço carinhoso. Quase me estrangulava, mas eu não me importava. Era assim que eu sabia que estávamos em paz outra vez.
Eu devia ter percebido que meu avô não era eterno... Mas o senhor parecia tão imponente aos meus olhos, que eu achei que o câncer, a químio e a rádioterapia eram só mais um obstáculo. Achei que era só uma questão de tempo até o senhor assar uma costela, comemorando o final de mais essa fase. Infelizmente, aquele almoço não veio...
A casa fica tão vazia sem o senhor! Ninguém perambulando entre o porão e a mesa da garagem, inventando outra gambiarra geniosa. Ninguém sentado na cadeira logo ao lado da janela na cozinha, posição estratégica do patriarca da casa para ver televisão. Ninguém ouvindo vanerão, comprando pão de queijo quase todo o dia, dando frutas pros cachorros, chupando balas de café a tarde toda. Brigando comigo quando dormia depois das dez da manhã.
Não que eu não adore meu pai, minha vó, e mais recentemente meus tios e minha prima... Mas simplesmente não é a mesma coisa!
Ai, ai, vô... Que saudade da tua risada, dos teus bordões, como o tal do "eeeexcelenteee!" nos almoços de domingo! Saudade da teimosia (odiou quando meu pai comprou uma pincher, chamava ela de rato, mas na primeira oportunidade começou a carregá-la pra cima e pra baixo, mimar e fazer carinho), da tua rigidez (ai de mim se não fizesse a cama de manhã) e da tua fibra. Obrigada por ter lutado contra tanta coisa pela nossa família.
Sinto saudades. Todos nós sentimos. Mas acho que eu sou a mais propensa a surtos tão intensos como esse.
Muita coisa está acontecendo conosco. Estou fazendo UFPR - não fui muito bem no primeiro ano, mas vou recuperar no segundo. E seria ótimo se o senhor pudesse estar aqui para brincar com a Júlia. Ela é uma menina linda, inteligente, que sabe ser gentil e fala muitas coisas engraçadas. Além disso vem o Joãozinho por aí, o seu terceiro neto, mas primeiro menino, que vai nascer logo. Ah, e tem a Lilica, uma cachorrinha fofa que a tia adotou (ia ser a mesma novela que foi com a Guiga, aposto). Sem contar as reformas da casa: a nova pintura ficou mais suave, e tiramos o carpete. Acho que o senhor ia gostar... Menos do dia em que eu roubei o espelho da sala pra colocar no meu quarto.

Eu lamento ter me desviado tanto na sua ausência. Era bom ter mais um ponto de apoio, além do meu pai por aqui.
Daqui em diante vou procurar me lembrar mais vezes de ser uma pessoa boa e esforçada, como você sempre nos incentivou a ser.

O senhor se orgulharia.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

2010.

Começei o ano com o pé direito.
Ano Novo desafiando a moral e os bons costumes. Até mesmo a lei, em certa altura, na companhia do amor da minha vida. Assistir os fogos de artifício, beijos ao som da primeira champagne aberta. Promessas, carinhos. Dormir com o cheirinho dele, meus braços ao seu redor - no chão da sala, mas, quem se importa?
Mudanças no horizonte. Afinal, janeiro ainda é o começo: só a primeira das doze partes do ano.
Tomei atitudes quanto a problemas antigos. Aprendi a separar o joio do trigo, boas companhias das más... Me afastar de confusão. Dar crédito a quem pode se provar capaz. Abrir meu coração. Não engolir mágoa. Ser mais sincera - se é possível.
Prometo me esforçar. Não desistir do que é difícil. Não abusar do que é bom. Traçar limites, deveres.
2010 também me promete algo.