domingo, 22 de novembro de 2009

anseio.

Bom-senso é coisa para os fortes. Estes, sim, podem se dar ao trabalho de planejar o futuro ao invés de ir colocando pés e mãos desesperados uns pelos outros.
Mas essa ausência entre lençóis e cobertas... Sem aquela respiração para cortar o silêncio da noite...
A cada noite é mais difícil ter que pegar um ônibus e rumar para o Hauer.
A cada amanhecer me sinto menos em casa, rodeada por coisas que só são minhas.
Por isso que adoro tanto afanar suas blusas. Por isso que de tanto dormir abraçada ao bichinho de pelúcia que me deu, amassei-lhe os bigodinhos. E insisto que a touca fica melhor em mim porque o fato de ter sido sua um dia a torna especial (além do fato de ficar mesmo bonita em mim!).
Abrir o portão da entrada sozinha me lembra que ainda falta muito de você ao meu redor.
Meu vício.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

vicio.

"Há sangue em minha boca
porque mordi a lingua a semana toda.
Eu continuo falando lixo,
mas eu nunca digo nada.
E falar leva a tocar,
e tocar leva ao sexo,
e então não sobram mistérios.
"
Rilo Kiley
Portions for Foxes
Apesar do esforço, foi absurdamente dificil conjugar os verbos no passado.
Peguei um ônibus errado. Me frustrei quando ele virou na esquina errada, xingando mais alto do que queria. O rapaz ao meu lado se assustou. Sorri para ele, com a cara toda vermelha - acho que fiquei monocromática, já que estava ruiva.
Olhando pela janela, começei a fazer planos. Desceria em um terminal, pegaria outro ônibus. Poderia fazer outra conexão e descer em frente à confeitaria (convite para um café, já que eu desmaiava de sono), ou ir a pé de lá mesmo, matando tempo para evitar estudar.
Começei a relembrar os dias anteriores. Como você só percebe que faz falta quando perde. Que algumas coisas simplesmente não tem motivo, então não me adiantaria de nada perguntar porquês. Que quando uma pessoa faz algo que acha errado, não conta detalhes ao admitir... Que não adianta ser justa em um mundo injusto. Que você toma lados mesmo quando quer ser neutro. Que o lado que escolhe sempre tem a ver com a emoção que se sente, e com aquilo em que se quer acreditar.
No domingo me descontrolei. Um rapazinho simpático e querido sofria de coração partido, e desabafava devido a um porre. Dia de merda, aquele. Ele dizia querer morrer. Então, corri em sua frente e lhe estapeei o rosto. O único assunto em que ele não podia tocar era aquele. Caí no choro e corri para trás de uma pilastra. "Você realmente anda psicótica", pensei. Por entre as lágrimas e as mãos em meu rosto, vi aqueles all stars brancos-quase-pretos, com solas arrebentadas. Chorei mais ainda.
Tentei explicar, entre soluços, a razão do descontrole, da bofetada e dos gritos. Quando uma pessoa mais nova sofre por menos do que você e pensa em se matar (mesmo que bebados não pensem), as coisas deixam de fazer sentido, certo? Afinal, se algo lhe ocorresse, seria uma justificativa para que eu pensasse na opção... E eu não queria pensar. Deixei implícito para o dono dos all stars que aquilo era culpa dele. Acho que ele fisgou a história...
Sequer vi quando os outros foram embora. Me atrasei quase quatro horas para chegar em casa. Ficamos conversando. Acabamos nos abraçando. "O que mais me faz sentir sua falta é o seu cheiro", ele sussurrou. Fiquei branca: "depois depois de todo esse tempo, e depois de tudo isso, só agora você me diz que cheiro bem?!". Quase quis dar-lhe um tapa, mas me contive com seu sorriso...
Aah, minha mania de impossível. Sempre desejando aquilo que não alcanço. Desde o brinquedo na última prateleira da loja até... Bom. Deixa quieto. Enfim, meu maior defeito, o mais irremediável. E ainda mais com o agravante de ter um vício - qualquer sorriso, qualquer toque dele... São meus tesouros. Momentos que guardadei para sempre. Como viciada, não me importo de onde vem a droga. como chega. Apenas a desejo.
Por causa dessa mania errática é que vi o terminal em que planejava descer passar pelas janelas do ônibus. Pensei dissimulada um "aah, que droga... Bom... Agora é tarde. Será que ele está em casa? Daqui é perto, posso chegar em questão de minutos" e mudei meu rumo. Descobri que o destino original não era nada, comparado com o lugar onde queria estar.
Quem sabe assim poderíamos consertar a história, para que o pretérito não fosse mais necessário?
Acho que não me importo se ninguém mais gostar do que escolhemos - ou melhor, escolhi - como enredo. Me basta minha dose regular de G.A.C., e ao diabo com o resto.

Porque nem te odiando, deixei de te amar.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

sono.

"fala a verdade, por favor,
diz que é mentira esse rumor,
que você anda sofrendo,
que você anda morrendo de pavor.
"
Ludov
Dorme em Paz
Cada vez em que me deito é a mesma coisa. Acendo um abajur, alcanço um livro. Tento me vencer pelo cansaço. Nunca venço ou sou vencida. Fico na eterna queda-de-braço entre pensamentos infames e sono.
O silêncio do quarto incomoda. Irrita tanto que me pego mentalizando o som da sua respiração, seus murmúrios noturnos...
Depois de mais uma noite inteira insone, simplesmente desisto. Espero o amanhecer, sentada na calçada da casa, xícara de café na mão.
Cada gole da bebida amarga intensifica o gosto da minha esperança.

Menti. Ergui uma fachada de conformidade.
Não preciso que prove que estou errada.
Eu continuo a negar incessantemente que estou.

Até lá, supero cada dia de transtorno pacientemente.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

fracasso.

"Não vou mais ficar aqui sem compreender;
sei que tudo há de vir no seu devido tempo.
Quem me dera dar o mundo pra você
e um pouco mais de paz.

Mas, minha linda, hoje não será
ainda o dia em que seremos felizes."

Ludov
O dia em que seremos felizes
Não estou aqui para nomear culpados e apontar dedos.
Estou aqui para admitir minha parcela de erros. Por ser tão irritante, insensível, além de exigente e infantil, jamais consegui enxergar totalmente tudo que fiz.
Decidi me controlar quando já era tarde demais. Me calei para que as palavras não estragassem os momentos, já que minha sinceridade chega a doer. Juro que tentei, por dias a fio. Guardei para mim, até que me perguntou o porque do meu mal-humor.
Tentei confiar, mesmo sabendo que não conseguiria. Me sinto a maior mentirosa do mundo por isso.

Fracassamos, a ponto de as brigas serem mais numerosas que os bons momentos. A dor que sinto a cada minuto nessa richa dilacera meu peito. Discutimos quando falo, quando calo, quando corro, quando fico...
Se o preço para isso parar for ter que te deixar, então, estou disposta a pagá-lo.
Mas só se esse for o preço para que paremos de sofrer a longo prazo.

Queria que fosse mais fácil.
Depois de quatro finais, acho que não espero nada diferente.
Demorou para que eu conseguisse admitir isso.

Por favor, prove que estou errada!
Mais uma vez, por favor!

sábado, 7 de novembro de 2009

verde.

"Moço, hoje eu vou querer
a comida mais estranha,
a que menos se pareça comigo.
Tô me sentindo meio janta hoje...
Tô me sentindo meio arroz com feijão.
"
Pato Fu
Prato do Dia
Acordei me sentindo "verde". Sinceramente, nao sei o que significa.
Seis horas da manhã levantei, tomei banho, fui pra aula, enchi a cara de café, me desesperei, saí da faculdade e... Ainda nessa cor, tão abundante.
Achei que fosse verde esperança. A promessa do sol, escalando o cenário azul para uma sexta-feira, que deveria ser a melhor entre as últimas que vivi.
Mudei de idéia. Era verde abacate, aquele tom estranho de casca grossa, fruto pesado, quase neutro.
Desbotou e virou um tom pastel de verde. Sem sal, nem açúcar, nem graça, nem destaque.
Acabou comigo em um dilema entre estar preta ou estar branca: que é pior? Ausência de luz, ou ausência de cor?
Se ao menos o tom fosse mais constante...
***
Sobreviver é fácil.
Respire, coma, durma, beba.
O foda mesmo é viver bem.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

cansaço.

Desisti do calor do momento. Simples assim.
Se, além das altas temperaturas de Curitiba, ainda tiver que suportar o calor do momento e o fervilhão de emoções, virei a desfalecer em suor e lágrimas. E aí não sobraria um pedaçinho gelatinoso de Mila - quem dirá, então, sólido.
Desisti de provar meu ponto de vista, de acertar as contas...
Como não sou perfeita, mantive alguns rancores de gente tão insignificante que esqueço na maior parte do tempo.
Perdoei a mim e pedi perdão. Desta vez, com sinceridade.

Assim, deixando estar, me atirei na noite clara e quente. Culpei tanto a lua cheia quanto a Walesa pelo meu desejo súbito e saquei o telefone:
- Oi, tá em casa?
- Estou, porque?
- Posso ir aí?
E então, me calei, para evitar que o veneno de meus lábios arruinasse tudo mais uma vez.

Lembrete: sextas feiras são perigosas.