quinta-feira, 19 de março de 2009

querer.

"Tudo é o tempo que será.
O teu sonho, teu olhar
pela janela que se abre e onde passas.
Tudo é meu corpo a percorrer
um caminho em teu querer
quando te escuto me chamar,
e como sempre
me chama pela tarde.
A vida é tão suave e eu me vou,
vou por entre os cabos,
centelhas de mensagens,
é o que sou.
[...]"
Manhã / Sinais de Fogo
Ana Carolina

A única coisa que passa por essa cabeça oca é aquele cheiro. Cheiro indescritível, que embala o meu sono. Que me lembra de dormir em um ombro, sentindo o calor daquela pele macia... E dormir profundamente. Da sensação de acordar fazendo manha, me espreguiçar amplamente e sorrir na penumbra. Aquele cheiro que me acompanha pelo dia, e do qual me lembro em horas assim, de sono.
E só de lembrar que me aproximo de mais um dia assim, o coração bate mais forte.

Pequena divagação de gente que precisa ir dormir e acordar pela manhã. Sozinha.

sexta-feira, 6 de março de 2009

lar.

"Eu não soube o peso do mundo que estava em seus ombros.
Não soube que você estava triste, que você estava mal.
Eu prossigo como se nada estivesse errado,
sem razões para preocupação.
Tarde demais para lamentar sobre o tempo perdido.
Não há respostas, nenhuma saída fácil.
Pegue tudo, se você quiser. [...]"

Sweet Virginia
Gomez
É complicado nunca se sentir de fato em casa. Complicado, aliás, é eufemismo.
Já fazem anos que não me sinto livre para ser eu mesma em tempo integral. Algumas vezes sinto mais falta, em outras menos. Em outras simplesmente assumo a máscara - ela se encaixa tão bem, que o papel soa natural até para a atriz.
Já gostei de ficar um dia inteiro de pijama, andando pra lá e pra cá, da sala pra cozinha, cozinha pro quarto, me estirar no sofá em frente à televisão... E também já houveram dias em que simplesmente não tinha para onde ir, então, permanecia.
Ao crescer, fui percebendo que nada disso me pertencia inteiramente. Que muitas coisas que eu queria não me eram possiveis nesse ambiente.
É um exagero, mas qualquer pessoa que mora em um lar que não seja inteiramente seu - como eu e meu pai, que vivemos sob o teto de minha vó - se sente como um intruso, ao menos uma vez por semana... E quando essa melancolia vem, dói profundamente. Querer fazer alguma coisa, das mais bobas, como colocar um quadro na parede, até as mais audaciosas, como derrubar uma parede, mudar a cor dos cômodos, tudo sujeito à aprovação e desaprovação de outrem. E sem direito à opinião, na maioria das vezes - até que a boa vontade do individuo favoreça uma discussão.

Nada disso faz sentido para a maioria das pessoas com quem tentei discutir.
É o que me deixa mais irritada ainda. Ser uma exeção em algo tão banal, como se sentir acolhido.

domingo, 1 de março de 2009

monólogo da noite vazia.

"[...] Ei, meu amor, você veio a mim
como vinho vem a esta boca
que cansou-se de água o tempo todo.
Você satisfaz meu coração,
e você satisfaz minha mente. [...]"

Two Step
Dave Matthews Band

Boa sorte a quem for ler. Provavelmente, não há sentido no que escrevi. Não se esforcem para compreender.

Preciso aprender a controlar as borboletas em meu estômago. Revoltosas, elas voam, revoam, clamam por seu néctar. São burrinhas, como eu mesma. Por vezes se esquecem que podem esbarrar em obstáculos, acabar sangrando.
A verdade é que nunca, como neste instante, odiei tanto as palavras.
São poucas. Insuficientes, imensuráveis perto do que sinto. E fracas. E patéticas. Nenhuma expressão jamais conseguirá exprimir meu desejo de voltar. Nem os calafrios. Nem os lábios mordidos, dedos trançados, pernas bambas, a sensação das bocas juntas, os abraços. O cheiro daquela pele, que me persegue... E muito menos a palpitação do sangue, me aquecendo por inteiro. Me deixando toda vermelha, sem jeito, e sem senso de ridiculo, de mim, dos outros. Como um narcótico, cujo efeito não desaparece facilmente.
Quanto mais complexo o conjunto de letras, mais se torna dificil para meu pobre cérebro calcular todas as variáveis e encontrar uma explicação que faça juz ao tremor na boca de meu estômago.

Mais fácil me conformar em relembrar, o contato, as risadas, os sussurros.
E agora, que já desisti de nomear essa qualquer coisa que qualquer um diga compreender (em vão, já que ninguém mais vê o mundo com as mesmas cores que esta que voz fala)... Talvez consiga dormir. E sonhar. Talvez até mesmo sentir.

No dia em que eu conseguir finalmente me expressar... Espero ter a palavra certa e esperada, na ponta da língua. E usá-la em toda a plenitude, conseguir conjugar perfeitamente os verbos relacionados. Sem enganos.

Portanto, para garantir certa segurança em tal campo minado, melhor dar um passo de cada vez.
Infelizmente, o primeiro (racionalizar e escrever) não parece ter dado muito certo.

Aah, se soubesse como me atordoa, e como exagero...
Afinal, este é meu draminha pessoal.
E o quanto me apego, pouco a pouco...
E a falta que faz nesse inicio de madrugada.

Cada segundo que passa é um segundo mais longe daquele momento...
Mas mais perto de outros que virão.