terça-feira, 14 de julho de 2009

edson.

Enquanto assistíamos televisão, vimos uma menina loura se desfazer em lágrimas. Não consegui me conter, e, mais uma vez, soltei a pergunta banal:
- Pai, eu chorava assim quando era criança?
- Não, na verdade... Eu não me lembro de ter te visto chorar por algo que não fosse um machucado. Você sempre foi uma criança muito quieta. Ainda é assim, e às vezes me preocupo.
Não era a primeira vez que ouvia aquilo. Mais ou menos nas mesmas palavras, mas com aquele exato ar que só ele consegue ter: meio saudoso, sempre gentil - comigo. De vez em quando sério. Eternamente furioso com atendentes de telemarketing e suporte técnico.
Meu pai é um homem fechado. Herdei isso dele. Me lembro que nas primeiras vezes em que o vi conversar com alguém que não fosse um amigo próximo ou familiar, me assustei. Não tinha o mesmo tom casual que comigo. Até a risada era diferente. O olhar variava: de vez em quando, parecia querer avaliar o impacto de suas frases sobre ou ouvinte. Em outras ocasiões era distante e sóbrio. E eu, ali, olhando para cima, buscando aquele olhar sincero, que não esperava nem escondia nada. Sempre explicava tudo que eu queria saber. Histórias do tempo de quartel, como conheceu minha mãe, o que achava das pessoas, o que fazia com os amigos, as festas em que foi... Dava conselhos, mesmo aqueles que não quis ouvir. Não hesita, ainda hoje, em passar horas comigo no sofá, nem que seja em silêncio, ou me ensinando.
Por sinal, sempre aprendo com ele. Da cultura inútil ao que realmente importa. Grande homem, esse Edson.
Uma das memórias mais fortes que carregarei eternamente, é uma noite em um hospital, em que eu, aos seis anos, sem sequer saber o que era pneumonia, tinha tido uma. No corredor, ele sentou-se em uma cadeira e, mesmo com vários outros lugares vagos, me sentei em seu colo. Afundei minha cabeça gorducha no seu peito, enquanto ele cantava baixinho, para que só uma pequena pessoa pudesse ouvir.
"Terra, terra... Por mais distante o errante navegante, quem jamais se esqueceria..."
Às vezes me pergunto se não o privo de partes demais de minha vida. Se não deveria contar-lhe tudo o que penso, tudo o que sonho. Se erro em não usar todo o seu potencial de amigo, achando que ele me repreenderá se eu lhe contar algo que fiz.
Antes mesmo de temer qualquer coisa que me possa acontecer, temo desapontá-lo em relação a minha atitudes, ou aborrecê-lo com meus desabafos juvenis. Por isso, busco me considerar uma pessoa independente e responsável por meus atos - acho que ele deve se orgulhar disso.
Mas, mesmo que não saiba o que comi no almoço de sábado ou o que faço madrugada adentro, o que realmente importa é justamente o fato de me compreender, mesmo sem que precisemos trocar uma só palavra.
Pai... Te amo.

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