segunda-feira, 8 de junho de 2009

yumi.

"Este poderia ser exatamente o minuto
em que estou consciente de estar vivo,
todos estes lugares parecem meu lar.
Com um nome que nunca escolhi,
posso dar meus primeiros passos
como uma criança aos vinte e cinco. [...]
"
Chocolate
Snow Patrol
Ela reclamou que não escrevo cartas. Percebi, então, que realmente nunca havia lhe escrito nada. Me perguntei porque e encontrei uma resposta - não coerente ou satisfatória, mas que se encaixa. Simplesmente, eu julgava que ela, me conhecendo como ninguém mais conhece, soubesse exatamente o que se passava em minha cabeça.
Como minha própria mãe diz, tenho problemas na hora de demonstrar afeto. Datas não me importam, presentes, bilhetes, recados. No entanto, adoro fotografar momentos e relembrar deles. Deve ser uma espécie de compensação.
Pois bem. Decidi escrever. Desde que parei de ir à psicóloga, eu mesma tenho que dar meus passos rumo à sociabilidade, e este, julgo, é um deles. Não optei por uma carta porque sempre me enrrolo com elas, e poderia perdê-la antes de entregar. Talvez em outro momento, eu decida fazer algo mais íntimo. Mas, por enquanto, acho que este post deve bastar.
Me lembro até hoje da primeira vez que vi aquela criatura. Era uma garota baixinha, usando um shorts curtinho, blusa de alças, e com o cabelo rosa-chiclete. Vinha de mãos dadas com um rapaz, que, coincidentemente, era meu ex-namorado. Até hoje resta uma leve dúvida se ele era canalha ou apenas volúvel, apesar de continuar sendo meu amigo.
Enfim. Eu estava quase que em casa, com meus amigos. Meu coração pulou na garganta, e meu primeiro pensamento foi... "Puta que pariu. Ela é mais bonita que eu."
Ficamos em lados opostos, no imenso grupo de amigos que se reunia em uma praça. Era cômodo, uma vez que, assim, eu não precisaria confrontar ninguém. Mais tarde, ao ver (de longe, claro) o casal em uma ceninha romântica, me descontrolei e desapareci com algumas garotas. Por lá, ficaram rumores: "a Mila tá mal", "a Mila tá chorando". A pobre criatura escandalosa que era ela não tinha culpa de nada, além de ter saído com um calhorda. Ainda assim, no entanto, sobrou pra ela.
Semana seguinte, e a mesma coisa: aquela coisinha aparecia em todos os cantos onde eu ia. Parecia que para provocar, me tirar do sério. Como se quisesse jogar na minha cara que era mais simpática, que chamava mais atenção. E eu, emburradinha.
Um dia, ela veio falar comigo. Descobri que não sabia quem eu era. Se apresentou: Yumi.
E continuava a aparecer. Cada vez mais como uma pessoa independente de quem quer que a houvesse trazido para aquele grupo. Demorei a me render à sua presença. Era simplesmente cativante demais, e me enjoava no inicio.
Aos poucos, nos tornamos amigas, conforme eu superava aquela richa pessoal, da qual só eu mesma sabia. Pra dizer a verdade, nem me lembro quando parei de relutar quanto a manter uma conversa, nem de quando lhe contei meu primeiro segredo. Não me lembro da primeira vez que a abrecei, ou quando foi o primeiro dia a vir dormir em minha casa. Nem da primeira vez que bebemos juntas, ou da primeira vez que saímos correndo e gritando, ou provocamos rapazes, ou passamos mal. Não consigo mais contar quantas ressacas, gargalhadas, e fins-de-semana. Quantos ficantes e namorados se foram, tanto meus quanto dela, dos quais falamos. Quantos boatos ouvimos e contamos, quantas piadas fizemos.
Não posso dizer quando ela se tornou indispensável em minha vida. Mas, com certeza, sem ela para secar minhas lágrimas e me dar um ombro amigo, eu teria perdido o rumo há tempos e tempos atrás. Não importa o que aconteça, é sempre a ela que eu recorro. É com ela que eu rio e choro, de quem empresto sapatos, e roubo vestidos. É dela que não consigo esconder nada, seja sórdido ou infantil. É ela que conhece minha vida, meus trejeitos, meus sentimentos e minhas risadas. É aquela trouxa que já deixou de ser visita no meio da minha família - passou a ser minha irmã de coração.
Porque essa criatura vai ser madrinha dos meus filhos, e eu dos filhos dela. Faremos merda mesmo depois de velhas, e assistiremos aos dvds especiais de aniversário dos quarenta anos de The Gazette. E até vamos lembrar da porra que foi aquele Gaijin no Fest que uma vez aconteceu no Largo (em 2008? E do de 2009, que foi uma droga, será que a gente vai lembrar?).
Yumi, você não vai se livrar fácil assim de mim!
Te amo, sua biscate.

Um comentário:

  1. Isso é no mínimo...Bonito.Sem palavras, poder ler isso de alguém é algo impagável de verdade.
    Não se preocupe quanto ao recado de observação do post anterior, teus posts são lidos sim.Sempre que possível.

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