terça-feira, 19 de maio de 2009

deus.

"Quando estava no jardim, caminhando no passeio de saibro, experimentou subitamente uma sensação estranha. Sentiu-se como uma boneca que ganharavida por uma varinha de condão.
Não era extraordinário estar viva naquele momento, e ser personagem de uma aventura maravilhosa como a vida?"
O Mundo de Sofia
Jostein Gaarden
Distraída com uma aula de Química Geral (que eu nem deveria estar assistindo, pois sou de outra turma, mas isso é um detalhe), comecei a folhear um livro que emprestei de um amigo. Deus, um delírio, de Richard Dawkins. Havia pêgo por curiosidade, não tanto por precisar ler algo para ter certeza que não há sentido em um ser sobrenatural que dê sentido ao mundo.
Logo no primeiro capítulo, me deparei com citações a Carl Sagan, Albert Einstein, Stephen Hawkins, e mais sumidades intelectuais. Juro que meus olhos brilharam no momento.
Então, me lembrei de algo que um dia discuti com uma amiga. Pouco antes de prestar vestibular para química na UFPR, me senti indecisa. Minha dificuldade em cálculo e raciocínios mecânicos sempre foi um obstáculo, e agora eu me decidia por uma ciência como forma de ganhar a vida. A garota começou a questionar minha escolha, e eu respondia. Sem ânimo no início. Em certo ponto, me empolguei.
Lembro-me que, em certo ponto, respirei fundo e desatei a falar, sem pausa.
Secretamente, eu desejava ter fé em qualquer religião. Qualquer coisa que me desse rumo, e na qual eu pudesse me apoiar. Desde nova, minha mãe afirmava que, sem Deus, não há vida que preste. E eu, pensando não posso aceitar isso. Deve haver algo mais. Não faz sentido.
Foi quando, no colégio uma professora começava a nos introduzir ao mundo de particulas cada vez menores. No início, admito, não entendia nada.
Mas com o tempo, acho que encontrei minha religião.
Ainda não creio em Deus como entidade. Acredito nas leis da física, química, quântica. Isso, para mim, tornou-se a essência. Veja, que mundo maravilhoso ao nosso redor, tão incompreensível, pronto para ser estudado, analisado..! Pronto para ser nosso! Que delícia pensar que tudo ia contra a origem do mundo, da humanidade, do meu ser em especial, mas, no entanto, aconteceu. E é miraculoso. Mas não como a cura de um aleijado, ou a salvação de uma alma perdida. Não cura câncer, nem trás o amor de volta em sete dias - faz com que estejamos aqui, o que é melhor ainda. Não vindos do barro, mas vindos de um processo trabalhoso, complexo, que ainda não terminou, e do qual somos parte. Tenho vontade de ajoelhar-me no chão e agradecer ao universo, e às suas leis, por cada quark no meu corpo!
E, sem desculpas de que acreditar em Deus serve como algo para melhorar a conduta dos seres humanos. Ateus não são criminosos em essência, só porque não acreditam ter um grande bisbilhoteiro os observando o tempo todo. Acho que é exatamente aí que o ser humano se torna mais nobre: alguém que não tem medo de punição, mas age de maneira socialmente correta por consciência própria parece melhor do que uma pessoa que se segura para não matar alguém, com pavor de passar a eternidade no inferno.
Mas, confesso, como expresso no livro que lia, que rezar pedindo ajuda à lei da gravidade não é a idéia mais reconfortante que há. E, justamente por isso, é que não retiro completamente o mérito das instituições teístas.
Pena que elas não me agradam.

Um comentário:

  1. Uma verdade é o fato de que discutir e debater religião é uma coisa delicada e, quando entramos nessa zona de conflito de idéias, temos que ter antes de tudo um tiquito de respeito no bolso.Pra mim? Bem, eu tenho minhas crenças, notavelmente diferente da tua, mas isso enriquece as discussões saudáveis não é mesmo?
    E independente da tua fé, creio que é a maior felicidade poder encontrar a sua, ou o começo dela.Se acredito nisso, ou naquilo...é algo a ser considerado por cada um.Eu não me meterei nisso!
    A vida vai, a vida volta.Tem que ter uma cortina.

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