segunda-feira, 4 de maio de 2009

pra quê?

"Eu já caí,
já to no chão,
e to torcendo pra você...
Ficar na merda.
Como eu também estou nessa merda,
então porque não ficar aqui?
E se você estiver na água
e não souber nadar,
eu vou te jogar uma pedra
pra você segurar,
pra você ficar ciente
de aonde é seu lugar.
"
Merda
Mombojó
Tenho considerado a estranha idéia da razão de tudo nas últimas semanas. Não creio que muitos tenham experimentado o mesmo turbilhão que por horas invadiu minha mente, ou a sensação de ser engolida pelo mundo, afundar em questionamentos.
Caminhando pela manhã através da calçada da faculdade, a idéia retornou à cabeça - em forma de palavras, desta vez. Me coçei procurando por uma caneta e papel, para tentar inutilmente escrever um lembrete, mas um capuccino me distraiu. Lembrei que alumínio e hidróxido de sódio me aguardavam no laboratório.
Um amigo me contou uma história. Uma vez, ele gritou "foda-se a camada de ozônio!" e foi abordado por uma garota com um cigarro. Ela despejou um discurso batido e até ruminado, de tão mastigado pela mídia. Enquanto isso, liberava gás carbônico entre os dedos. Sinceramente, quando ouvi, não soube se ria, chorava ou virava as costas. Acho que gargalhei, não me recordo.
E é aí que me pergunto... Pra quê? O mundo é lindo, certamente. A garoa fina de Curitiba me acordava suavemente, passo após passo, numa manhã cinzenta. Mas nada me afastava a absurda pergunta.
Pra quê
manter a ordem, cuidar da natureza, salvar a humanidade...?
Se a política, a economia, a desigualdade (só pra começar chutando baixo) não forem corrigidos... Pra quê?
Se é pra deixar nossos filhos e netos numa hipocrisia mais estúpida ainda, não seria melhor deixar que tudo se acabe? Afinal, o homem perdeu a solidão nas cavernas, a vergonha em Roma, a coragem na Idade Média, a inocência no pós-2ªGM. Agora, perdeu o sentido. Até mesmo vetores deixam de ser vetores se perderem a direção e/ou o sentido. O que faz com que o homem continue a ser homem se perder isso? Que se dirá de toda uma comunidade global? Porque uma pergunta de duas palavras só tem uma resposta de outras duas palavras? Não sei.
Não que eu seja totalmente mal-agradecida, ou suicida, ou demente. A sucessão de enganos que me deu origem (que deu origem a todo o ser humano) é magnífica. Uma falha na história da humanidade e, cabum, esta pobre criatura nada falaria. Sorte minha, azar de quem me aguenta. Ainda assim, não creio em religiões. Às vezes gostaria de conseguir rezar, como os outros. Seria tão mais fácil pedir ajuda a um ser magnânimo, misterioso, que nunca responde.
Acho que vou dar um nome a uma pedra e começar a monologar. Talvez funcione.
Mas, voltando ao que interessa, e resumindo por fim: que se exploda. Não creio que haja qualquer coisa após os meus olhos se fecharem. Mesmo quando durmo, não tenho sonhos. Acho que meu sono deve ser bem próximo da morte. Não é tão dificil aceitar isso quando simplesmente se ignora doze horas de um dia por quase toda uma vida.

Uma coisa, entretanto, é certa: os crentes que esperam o juízo para repousar ao lado do Pai por toda a eternidade querem protelar a data. Tentarão a todo custo fugir das intimações. Todo mundo lava roupa, e todo cesto fede - uns mais, outros menos. Ter uma pedra celestial analisando as manchas das roupas de baixo dos outros e emitindo veredictos tão inflexiveis quanto ela mesma não parece ser confortável. Para quem crê nisso.

E, pelo amor da pedra, alguém me diga que eu estou errada, e me mostre o pensamento positivo mais racional possível para tirar essas quatro palavras da cabeça!

Pra quê? Não sei.

Um comentário:

  1. Hikari, ficou otimo, principalmente a historia da camada de ozonio. E como toda boa cientista, a religião é um assunto do qual não lhe
    interessa. Erealmente pra quê?

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